sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

EXORCISMO - DOUTRINA E PRÁTICA



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DOUTRINA – INTRODUÇÃO À PRÁTICA DO EXORCISMO

Segundo a Igreja Católica “Deus, infinitamente perfeito e bem-aventurado em Si mesmo, num desígnio de pura bondade, criou livremente o homem para o tornar participante da sua vida bem-aventurada. Por isso, sempre e em toda a parte, Ele está próximo do homem. Chama-o e ajuda-o a procurá-Lo, a conhecê-Lo e a amá-Lo” (Catecismo da Igreja Católica, Prólogo).
A existência de Deus é a verdade fundamental de qualquer religião. Deus que não pode ser compreendido, já que ao limitado está vedada a compreensão do ilimitado, mas que pode ser conhecido pela luz natural da razão humana e a partir das coisas criadas (Concílio Vaticano II e Rom 1, 20). Conhecimento que só se torna possível às almas que o querem efectivamente conhecer. 

O mundo exige uma causa de si mesmo e essa causa é Deus.
O homem deseja Deus, porque esse desejo infinito está desde sempre inscrito no seu coração, em virtude de ter sido criado por Ele e para Ele. Uma relação íntima e vital une-os (GS 19, 1), transformando-nos em seres essencialmente religiosos.

Apesar de habitar uma “luz inacessível” (1 Tm 6, 16) revelou-se-nos e falou-nos pelo seu Filho amado (Heb 1, 1-2). 
Crer em Deus é crer inseparavelmente em Cristo, em quem Ele pôs todas as suas complacências (Mc 1, 11). Mas indo mais longe, na interpretação do mistério trinitário (o mistério é uma verdade incompreensível, mas na qual cremos por via da revelação de Deus contida na Sagrada Escritura e na Tradição), a Igreja considera que só Deus pode dar-nos o seu conhecimento, revelando-Se como Pai, Filho e Espírito Santo, três pessoas com a mesma natureza divina, sendo por consequência um só Deus. 
Tenhamos em consideração que a Revelação de Deus ao homem teve o seu fim e ponto mais alto com a Encarnação do Verbo.

Deus é o Criador (Gn 1, 1 e Jo 1, 1-3), espírito infinitamente perfeito, existente por si mesmo, de quem todas as coisas e entes recebem a existência. O mundo e criaturas foram criados para sua glória, sem outra razão senão o seu amor e bondade. Como escreve Santo Agostinho, “Aperta manu clave amoris creaturae prodierunt”, o que quer dizer, “as criaturas saíram da mão aberta pela chave do amor”, estendendo-se a Sua misericórdia a todas elas (Sl 144,9).

No quarto Concílio de Latrão, afirmou-se que Deus “desde o princípio do tempo, criou do nada uma e outra criatura, a espiritual e a corporal, isto é, os anjos e o mundo terrestre. Depois criou a criatura humana”.
Os anjos são uma verdade de fé, criaturas espirituais superiores ao homem e inferiores a Deus, criados para o louvarem e cumprirem as suas ordens.
Santo Agostinho ensinava: “Angelus officii nomen est, non naturae. Quaeris nomen naturae, spiritus est; ex eo quod agit, angelus”, o que significa que Anjo é nome de ofício, não de natureza. Desejas saber o nome da natureza? Espírito. Desejas saber o nome do ofício? Anjo. Pelo que é, é espírito; pelo que faz, é anjo.

Na categoria dos Anjos, alguns mantiveram-se fiéis e ao serviço do Criador, enquanto outros chefiados por Lúcifer ou Satanás, revoltaram-se contra Deus e foram expulsos e condenados ao Inferno, procurando que os homens se revoltem contra aquele. Ao Demónio chamam-lhe “adversário do homem” (1 Pedro 5, 8), “Tentador” (Mt 4, 3 e 26, 36-44), “homicida” (Jo 8, 44) e até “Príncipe deste Mundo” (Jo 12, 31).
O Maligno é o Senhor das Trevas (Lc 22, 53) que serão combatidas até ao fim dos tempos (Mt 24, 13, e 13, 24-43) numa batalha sangrenta.


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Para Freud, o Diabo é o melhor subterfúgio para desculpar Deus.
Alçada Baptista refere, que a teologia moderna, preocupando-se em ser mais cientista do que a ciência, anda a ver se disfarça esta presença insólita do Diabo e toda a liturgia que lhe está inerente, como quem enfia na cave um parente incómodo, em dia de visitas.

Nesta perspectiva, muitos interpretam o Diabo das Escrituras de modo figurativo, como mera representação do mal. 
Não sabemos se o Diabo existe, mas sabemos que o mal tem uma existência constante.

Na primeira carta atribuída a S. João (1 Jo 5, 19) pode ler-se: “Bem sabemos que somos de Deus ao passo que o mundo inteiro está sob o poder do Maligno”.
Na carta aos Coríntios S. Paulo chama a Satanás “deus deste mundo”.
Para a Igreja, o Demónio é um Antideus, que causa possessões, obsessões (pensamentos invencíveis, fenómenos do tipo paranormal), infestações (em casas, objectos e animais) e outros males maléficos, bem como tentações no coração dos homens, levando-os por vezes a contrair pactos de sangue.
Se extrairmos Lúcifer da Sagrada Escritura, muito provavelmente o Cristianismo acabará por ficar embaraçado e até desacreditado, no sentido da lógica que lhe preside.
Como ensinou Santo Agostinho, “sem Diabo não há Cristo”.

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Deus criou o ser humano à sua imagem (Gn 1, 27) colocando-o no Paraíso (Gn 2, 15), mas o homem caiu (Gn 3) por obra de Satanás ou Lúcifer, o chefe dos Anjos decaídos, cometendo o pecado original (Gn 2, 17), que não foi de gula mas de soberba, querendo igualar-se ao Altíssimo, e que se transmitiu a todos os homens, ficando apenas dele isentos a Virgem Maria e Cristo.
Deus tendo compaixão do homem caído no pecado prometeu-lhe a vinda do Redentor, que encarnou e se fez Homem, oferecendo-se na Paixão e morrendo por nós, para que ficássemos libertos do pecado e do demónio.


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Cristo venceu a tentação de Satanás no deserto (Mc 1, 12-13), expulsou demónios (Mt 12, 27-29) e concedeu aos Apóstolos e aos seus discípulos o poder de expulsar os espíritos malignos (Mc 3, 14-15 – veja-se também Mc 16, 17). 
Por tal motivo, “Quando a Igreja pede publicamente e com autoridade, em nome de Jesus Cristo, que uma pessoa ou objecto sejam protegidos contra a acção do Maligno e subtraídos ao seu domínio, isso chama-se exorcismo” (Catecismo da Igreja). 
Não obstante, Jesus terá dado o poder de exorcizar a todos os seus seguidores, a todos os cristãos (Mc 16, 17). Mas, assumindo-se como católicos, os crentes têm o dever de observar os preceitos da sua Igreja, que restringe a celebração aos sacerdotes.

Podemos distinguir entre exorcismos menores (no Baptismo os baptizandos renunciam a Satanás) e maiores, que têm como finalidade expulsar os demónios ou libertar pessoas, animais ou objectos da influência diabólica.
O exorcismo dos possessos deve ser realizado mediante autorização do Ordinário do lugar, em regra o Bispo diocesano (Código de Direito Canónico, can. 1172) e em conformidade com o Ritual Romano de Celebração dos Exorcismos (seguimos neste particular a edição da Conferência Episcopal Portuguesa).

O sacerdote escolhido para o acto deve ser dotado de:
- piedade;
- ciência;
- prudência; e
- integridade de vida.
Guardará sempre o segredo da confissão.

Alguns exorcistas, não só os católicos, têm o carisma de “expulsar demónios” ou realizar “curas espirituais” nos possuídos e enfermos. Normalmente, têm os seus processos específicos de operar, em regra pouco ortodoxos, e uma intuição que lhes permite interpretar o quadro patológico do exorcizando. É interessante realçar a forma como muitos deles, servindo-se do Ritual Romano o alteram de modo substancial, aplicando-o às suas próprias crenças e ao caso específico da pessoa que buscam auxiliar.  

O sacerdote exorcista deve ponderar com toda a diligência:
- não crendo sem mais, que a pessoa esteja possessa pelo Diabo, devendo averiguar por todos os meios à sua disposição se não se indicia a existência de alguma patologia, especialmente psíquica;
- não aceitar sem cuidada averiguação, que haja possessão apenas porque a pessoa se queixa de desolação e de estar a ser atormentada ou atingida por malefícios, maldições, má-sorte que lhe tenham sido lançados.
- estar atento às artes e maquinações do Diabo no que se refere aos erros que provoca nos homens;
Na maioria dos casos, não estaremos efectivamente perante possessões demoníacas, não se justificando o exorcismo, mas antes, o conforto moral e espiritual do exorcista ao que o procura, que pode ser prestado por meio de orações e palavras. O exorcista é antes de tudo, o sacerdote que ouve e faz por aproximar os que buscam o seu socorro, de Deus.

Consideram-se como sinais de possessão do Demónio:
- dizer muitas palavras de língua desconhecida ou entender quem assim fala;
- revelar coisas distantes e ocultas;
- manifestar forças acima da sua idade ou condição natural;
- a aversão veemente a Deus e ao Santíssimo Nome de Jesus, à Virgem Maria e aos Santos;
- aversão à Palavra de Deus;
- aversão a ritos e objectos sagrados (v.g. o crucifixo), especialmente os sacramentais;
- aversão à água benta.

O exorcista deverá consultar peritos, entre os quais médicos neurologistas, psiquiatras, ou de outras especialidades em conformidade com o caso concreto.
Tenha sempre em consideração as manifestações de certas senhoras, similares a possessões, mas que apenas necessitavam de “homem”, como referia com alguma graça um Pe. não-exorcista, mas que durante a sua vida atendeu muitos possessos e cujo nome omitimos deliberadamente.
Se a exorcizada for uma mulher (e hoje, pelos muitos escândalos de que a Igreja Católica tem sido acusada, crianças), o sacerdote deve fazer-se acompanhar por duas ou mais pessoas de respeito, de preferência outra ou outras mulheres, católicas. 
Nada obsta a que outros profissionais o acompanhem nessa celebração, tais como médicos, psicólogos, enfermeiros, sociólogos, e sejam auxiliados nos casos mais graves por paroquianos com força necessária para poderem imobilizar o exorcizado.
A presença de um ou mais parentes do exorcizado, de um sacerdote auxiliar e de um médico não deve ser olvidada. O(s) familiar(es) podem ter algum ascendente sobre o exorcizado e conhecem as suas reacções, o sacerdote auxiliar pode continuar a celebração no caso do exorcista ficar impossibilitado por fraqueza, agressão ou mesmo morte (narram-se casos em que os sacerdotes terão falecido durante a celebração), e o médico poderá assistir qualquer um dos intervenientes, sendo caso disso, bem como avaliar a eventual falta de explicação da ciência médica para os sinais e sintomas patológicos que observa. 
O exorcismo não deverá nunca ser celebrado em público, mas em local reservado onde estejam expostas as imagens de Cristo crucificado e da Virgem Maria, não sendo divulgada qualquer notícia a seu respeito.



(SITE PESSOAL)



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